Pesquisa da CNC (Confederação Nacional do Comércio) mostra que a inadimplência está caindo. Nos últimos cinco meses, mais de 2,6 milhões de brasileiros saíram dessa condição. Mas o ritmo é lento: três de cada dez famílias ainda estão com as contas atrasadas.
Entre as mais pobres, com renda mensal de até três salários mínimos, esse percentual sobe para 36%. Já o grupo de endividados, que inclui qualquer pessoa que compra parcelado e que paga ou não em dia, atinge 76% das famílias, 2 pontos percentuais a menos que no mesmo período de 2022.
O especialista em finanças pessoais Renan Diego explica o porquê de a inadimplência diminuir de forma tão lenta entre os brasileiros.
“A inadimplência no Brasil ainda é alta, por alguns fatores que faltam desde a base da cultura do Brasil, como falta de educação financeira. A maioria dos brasileiros gerencia seu dinheiro de maneira intuitiva, ou seja, vai gastando até acabar, sem nenhum tipo de planejamento financeiro. Outro ponto que atrapalha o brasileiro é a falta de uma reserva financeira para o caso de um imprevisto ou emergência, o que faz com o que ele recorra a empréstimo com altas taxas de juros. Sem essa reserva, quando o brasileiro fica desempregado, acaba não conseguindo manter o padrão de vida e acumulando mais dívidas”, ressalta Renan.
Vários motivos levam ao endividamento dos brasileiros. Segundo os especialistas, a renda média dos trabalhadores, que é de quase R$ 3.000 por mês, é um deles. Uma prestação de R$ 300, por exemplo, já compromete 10% do orçamento de muitas famílias.
Outro problema é que, com a facilidade de parcelar as compras, as pessoas se esquecem de fazer as contas, segundo Renan. Assim, o que parecia uma vantagem acaba se tornando uma dívida difícil de quitar.
O número de pessoas que dizem que não vão conseguir pagar o que devem aumentou em relação a novembro de 2022: são 12,5% das famílias; 17% entre as que ganham menos. Ainda segundo a pesquisa, 86% fizeram dívidas com cartão de crédito.
Para Renan Diego, o comportamento do brasileiro em relação às finanças pessoais não ajuda a mudar esse cenário crônico.
“Com toda certeza, o desemprego, a diminuição da renda média familiar e as compras para terceiros influenciam muito na inadimplência dos brasileiros, mas a falta de educação financeira é na, minha opinião, a maior influência, pois dificuldades e imprevistos todos nós passamos e vamos continuar passando, o que muda é como passamos por eles e o quanto estamos preparados para isso. Se os brasileiros tivessem a cultura de administrar seu dinheiro, criando um planejamento financeiro mensal que desse para pagar suas contas e ainda guardar para possíveis emergências, muita coisa seria evitada em meio a um imprevisto”, argumenta ele.
Ainda segundo o especialista, uma alternativa para resolver esse problema seria conscientizar a população sobre o valor do dinheiro.
“Uma das maiores dificuldades dos brasileiros é conseguir evitar as compras por impulso, que na maioria das vezes nem eram necessárias. Para evitar as compras por impulso e ajudar consequentemente o brasileiro a não ficar inadimplente, há uma técnica que ajuda a ficar no controle das finanças. Toda vez que for comprar por impulso, use a regra das 24 horas. Espere 24 horas antes de comprar, pois assim se tira a emoção, que é o que faz a gente comprar, e entra a razão, provavelmente após as 24 horas, a pessoa não vai nem lembrar que queria comprar, se realmente for uma compra por impulso”, diz.
“Mas, se após 24 horas ainda quiser comprar, utilize a técnica das três perguntas, onde se vai responder sim ou não, se responder não para qualquer uma, não vai fazer a compra, se responder sim, passa para a próxima e só compre se for ‘sim’ para as três perguntas, que nesse caso não será uma compra por impulso. A primeira pergunta que se tem de fazer é: eu realmente quero isso? A segunda é: eu preciso disso? E a terceira é: eu posso comprar isso? Utilizando essa técnica, você vai começar a valorizar mais o dinheiro, para começar a guardar para uma reserva de emergência para ajudar em momentos difíceis”, completa.
Inadimplência atinge quase 72 milhões de pessoas no país
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